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Biografia

Filha de Dona Erani e Seu Joaquim, Djamila Ribeiro nasceu em São Paulo no dia 01/08/1980 e assim que saiu da maternidade foi para Santos, no litoral paulista, onde formou raízes, viveu a infância e cresceu. Estudou no Colégio Moderno dos Estivadores, por conta da, à época forte, categoria profissional do pai, estivador no Porto de Santos, profissão que sustentou a prole familiar na qual Djamila era a caçula de quatro irmãos.

 

A mãe, que fora empregada doméstica até se casar, foi figura central no ambiente doméstico, na criação e na iniciação de Djamila no candomblé logo aos 8 anos de idade. Dona Erani, assim como Dona Antônia, sua mãe e avó de Djamila, era benzedeira e atendia uma fila de pessoas. Dado momento, quando a filha era adolescente, após inúmeras frustrações com pessoas que tiravam proveito de sua mediunidade, Dona Erani se desfilia completamente da religião e Djamila, por consequência, se afasta do contato com religião de matriz africana, reencontro que seria feito apenas na vida adulta. Nas férias, por recompensa pelas boas notas na escola, Dona Erani mandava apenas a filha caçula, única a tirar as notas escolares boas, para passar as férias em Piracicaba, na casa da avó, lugar de muitos momentos felizes.

 

Já o pai, militante fundador do Partido Comunista de Santos, iniciou Djamila nas manifestações políticas contra a privatização do Porto de Santos, bem como estimulou atividades extracurriculares no Centro Cultural Brasil-União Soviética, onde Djamila teve aulas de xadrez, disputou campeonatos na cidade e conquistou a medalha de prata logo aos 10 anos de idade. Foi ele quem escolheu o nome de Djamila ao folhear o Jornegro, jornal da militância negra da época. Naquela época, início dos anos 90, a categoria era forte, tinha escola, hospital e permitia os estivadores tivessem casa própria, tal qual o apartamento do térreo na Rua, onde a família passou por todo o tempo.

 

Na adolescência, Djamila dedicou-se no inglês, completando o curso da cidade, bem como nas atividades da escola, onde se formou como uma das melhores alunas em notas. Sua vida doméstica, no entanto, estava complicada financeiramente. Foi então quando Djamila passou a cuidar de uma barraca de pastel, vendendo e fritando, como também trabalhava em festas e buffets. Todo dinheiro que ganhava entregava a sua mãe para ajudar nas contas da casa.

 

Aos 20 anos lidou com um dos maiores desafios de sua vida com o falecimento de sua mãe por câncer e, um ano depois, o falecimento do pai pela mesma doença. Foi uma época em que Djamila tinha ingressado no curso de Jornalismo na Faculdade Santa Cecília e para pagar o curso entrou em contato com uma família branca que havia sido amiga de seu pai, e cujos herdeiros ofereceram o emprego de auxiliar geral de limpeza, apesar de dominar idioma, ter experiência profissional e uma graduação em andamento. Djamila trabalhou na função até que a doença da mãe evoluiu a ponto de ter que ficar todo o tempo no hospital. Durante esses dois anos, praticamente viveu no hospital, ao lado da cama e passando por uma série de crises e privações. No fim do processo de adoecimento de seu pai começou a trabalhar na Casa de Cultura da Mulher Negra, o que seria um verdadeiro giro em sua vida. Na Casa, à época encabeçada por Alzira Rufino, Djamila participou da organização de eventos, campanhas e imprensa relacionados à militância negra e foi nesse período que entrou em contato com autoras negras que fizeram-na mergulhar na produção literária de mulheres que a acompanham até hoje, como Carolina Maria de Jesus, Jurema Werneck, Alice Walker, Toni Morrison e Conceição Evaristo, entre tantas outras.

 

O desistência da faculdade de jornalismo na faculdade Santa Cecília, acompanhada da saída da Casa de Cultura culminou em uma nova fase da vida da Djamila que agora vivia seu primeiro relacionamento amoroso, com o empresário Donald Verônico Alves da Silva, com quem esteve por 13 anos. Foi no segundo ano de relacionamento que Djamila engravidou de Thulane, sua filha amada, que viria a nascer em fevereiro de 2005, aos seus 24 anos. Deixou a faculdade e passou três anos sendo mãe em tempo integral. Ao passo que a maternidade foi passando, crescia a insatisfação de Djamila por ter uma vida profissional da qual sabia ser capaz, mas simultaneamente se via em completa falta de perspectiva. Em uma certa tarde, em 2006, quando chorou pedindo uma luz, Djamila adormece e tem um sonho vívido com seus pais. Segundo afirmou em inúmeras entrevistas, esse sonho com recado de seus pais mudou sua vida completamente. Foi quando passou a cuidar do espírito em centros espíritas kardecistas da cidade e voltou ao mercado para buscar emprego, conseguindo-o na Teasul, empresa de exportação no Porto de Santos onde trabalhou como secretária do diretor. O diretor viajava muito e certa vez, navegando na internet, Djamila encontrou o vestibular da Unifesp para inscrição; ao lembrar de seu velho pai autodidata que gostava de ler, decidiu subitamente fazer Filosofia, uma matéria que gostava desde a infância.

A representatividade é importante, porque não basta ser mulher e mulher negra, mas tem que estar comprometida com as questões, e eu estou. Comprometida com as pautas feministas, com a questão racial, com a agenda dos direitos humanos no Brasil

Djamila Ribeiro

O início do curso foi muito difícil: o processo conturbado de sair de Santos nos dias de semana para fazer faculdade, a ida improvisada para o apartamento dividido da irmã com amiga e até a falta de dinheiro para o ônibus tornaram a permanência na faculdade muito custosa. Por vezes, só conseguia chegar na faculdade às 21:30, quando as aulas já haviam acabado. A situação só melhorou depois de um ano, quando passou para a vaga de Professora de filosofia no Estado de São Paulo em um colégio em Guarulhos, o que possibilitou a mudança para o Bairro dos Pimentas. Junto com o apoio financeiro de seu então companheiro, bem como a base familiar dele para sua filha permanecer segura e bem cuidada em Santos, Djamila teve oportunidade de frequentar a Universidade com maior bem estar e prosperar no curso.

 

Essa experiência como professora no Estado em um colégio em Guaruhos foi muito rica em seu processo de formação, pelas estratégias para conseguir ensinar em um ambiente tão precarizado pelo Poder Público. Muitas eram as alunas grávidas e outros tantos com dificuldades e para ensinar filosofia, Djamila percebeu que não seria com Hegel, Platão, etc. Foi quando ela passou a debater filosofia na sala de aula a partir das músicas de Racionais MC’s, o que foi um grande sucesso. Na Universidade, foi membra fundadora do Mapô – Núcleo de Estudos de Diversidade; estudou filósofos e conheceu Simone de Beauvoir, pensadora francesa que muito inspirou e inspira seu trabalho. Quando assentou sua vida no Bairro dos Pimentas, dando aula na rede pública estadual em Guarulhos, Djamila deslanchou na Universidade, com pesquisas aprovadas pela FAPESP e despontando com a participação como conferencista na Beauvoir Society, rede global de estudiosas da obra de Simone de Beauvoir. Participar de seminário internacional na Universidade do Oregon, nos EUA, enquanto graduanda foi um de seus episódios de destaque. Tempos depois, quando já havia saído do emprego do colégio para se dedicar aos estudos, teve a companhia de seu orientador Alexandre Carrasco nas reflexões da pensadora na orientação para iniciação científica.

 

Em 2013 Djamila conhece o babalorixá Rodney William, pessoa que mudou sua vida e se tornou seu pai-de-santo, aproximando-a novamente ao Candomblé e a Oxóssi, seu orixá. Graduada nesse ano, Djamila passou direto para o mestrado em Filosofia Política na Unifesp sob orientação de Edson Telles e teve uma dura caminhada para ter condições materiais de permanecer no mestrado e na pesquisa, contando com a ajuda financeira do então companheiro, cuja família fornecia base para criação de sua filha. Na dissertação, Djamila estudou Simone de Beauvoir, Judith Butler e trouxe as reflexões das feministas negras Audre Lorde, bell hooks, Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro, entre outras. Como mestranda, Djamila apresentou dois seminários internacionais pela Beauvoir Society: um em La Plata, na Argentina e outro em St. Louis, nos EUA. Quando pensou em desistir do mestrado por falta de estrutura, obteve a aprovação da FAPESP para a pesquisa e ganhou fôlego para seguir. Em 2014, sua presença nas redes passou a repercutir após aparição marcante com a amiga Clara Averbuck no programa “Na Moral” da Rede Globo para debate sobre feminismo. Foi nesse ano que iniciou a épica coluna na CartaCapital que anos depois resultou no livro “Quem tem medo do Feminismo Negro?”. Na defesa da dissertação em 2015, sua banca estava lotada e a aprovação do título de mestre foi um momento de grande alegria.

 

Naquele ano e em 2016, Djamila já fazia palestras pelo Brasil. Do agreste ao Sul, frequentou a boa parte dos Estados brasileiros despontando como intelectual dedicada às perspectivas do feminismo negro. Logo nos primeiros meses, encabeçou o projeto com convite para publicação e tradução do livro de Angela Davis “Mulheres, Raça e Classe”, cujo prefácio escreveu e foi um enorme sucesso no Brasil. Logo em seguida, encontrou-se com Grada Kilomba, pensadora portuguesa de origem de Cabo Verde, que teve grande impacto em seu trabalho. Em março daquele ano, Djamila assumiu o posto que lhe trouxe à época grande visibilidade e muitos desafios: a Secretaria Adjunta de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, na gestão de Fernando Haddad. Foram meses intensos de trabalhos e entregas para a população da capital paulista, como o continuidade e desenvolvimento de projetos como Transcidadania, Juventude Viva, bem como participação na criação de outros, como o projeto de lei de participação social. O cargo político lhe valeu muitas experiências e contatos, como Ísis Vergílio, sua fiel escudeira até hoje e que à época trabalhava na subsecretaria da Juventude. Nesse ano também conheceu o trabalho de Brenno Tardelli, diretor de redação do Justificando, ao levar uma então escritora de alguns artigos na internet, Joice Berth, para compor o time de colunistas do site. Brenno se tornaria tempos depois seu companheiro e Joice sua grande amiga. Ao fim do mandato, sua presença na mídia e no debate público era recorrente.

 

Finda a gestão, a vida particular deu um giro com o pedido de divórcio em seu casamento, vindo ela morar em São Paulo com sua filha Thulane, então com 11 anos. Como arrimo da casa e sem qualquer cargo fixo, logo no início do ano Djamila apresentou o programa de entrevistas do Canal Futura, que contou na estreia com Marielle Franco, com quem conversou várias outras vezes. As palestras, por sua vez, seguiam pelo país e Djamila passou quinzenalmente a ter encontros para dar aulas sobre feminismo para um grupo de atrizes da Rede Globo no Rio de Janeiro, compromisso que se estendeu por dois anos. Internacionalmente, esteve em encontros brasileiros em universidades como Harvard e Oxford, como foi premiada no Trip Transformadores e no Prêmio Cidadão SP em Direitos Humanos, entre outras agendas onde foi angariando grande capital político, como a visita a convite do governo da Noruega para cumprir uma semana de agendas oficiais. Foi nesse ano que concebeu seu grande projeto de vida até hoje: a Coleção Feminismos Plurais, que reúne autoras e autores negros para pensarem temas críticos a preço acessível e linguagem didática. Brenno Tardelli, que se tornaria seu companheiro tempos depois, apresentou-a à Editora que publicaria a primeira edição da Coleção e em novembro ocorreu a festa de lançamento do Lugar de Fala, sua primeira obra. No mês seguinte, no Rio de Janeiro, cariocas fecharam a Rua Morais e Vale, na Lapa, em um lançamento histórico. A partir daí os lançamentos do livro reuniram milhares de pessoas em diversas cidades do país. Vale destacar que de forma independente a Coleção publicou seis autores em menos de um ano: Juliana Borges, Joice Berth, Carla Akotirene, Silvio Almeida, Adilson Moreira e o seu, evidentemente. Foi num boteco na Lapa, no dia anterior ao lançamento do Rio de Janeiro, que Djamila pensou no Selo Sueli Carneiro, para reunir publicações de pessoas negras e, ao mesmo tempo, homenagear a feminista negra que foi grande inspiração de sua vida. O Selo seria lançado um ano depois, em festa no SESC Pompéia em São Paulo, com o lançamento do livro “Sueli Carneiro: Escritos de uma vida”, da própria Sueli, sétima autora lançada.

 

No ano seguinte, Djamila passa a viver com seu atual companheiro e sua filha, mas mantendo um ritmo com agendas internacionais que se sucederam. Djamila proferiu aula no Departamento de Filosofia da Universidade de Frankfurt, na cadeira criada em homenagem a Angela Davis, como foi convidada especial da Bienal de Artes de Berlim, na Feira do Livro de Edimburgo, entre tantas outras. Esteve na África do Sul a convite do órgão oficial de turismo do país, em Barcelona a convite da Prefeitura e em Londres, no departamento de Direito do Kings College. No Brasil, as atividades se multiplicavam, consultoria em empresas, entrevistas e palestras sendo gestada pela “grande equipe de três pessoas”: Brenno e Ísis na base, Djamila na liderança. Na televisão, fez parte da bancada do programa Amor e Sexo, da Rede Globo e nas feiras teve a ida à Feira Literária de Paraty como convidada da programação oficial pelo recém lançado “Quem tem medo do Feminismo Negro?”. Ao fim da feira, saiu o ranking de livros mais vendidos, sendo que Djamila ocupou a autora vida mais vendida da Feira na 2ª (com Lugar de Fala) e 3ª (Quem tem medo) colocação geral, uma vitória lembrada até hoje com grande alegria, uma vez que a Coleção é um projeto independente, um projeto manual que não recebe dinheiro de qualquer partido e organização, mas que ainda assim conseguiu romper as barreiras postas. Nesse ano, os livros lançados pela Coleção livros das autoras tornaram-se uma realidade nos programas de universidades, escolas públicas e rodas de leituras de todo país. No fim do ano, em meio a campanha contra o governo que acabou eleito, estreou uma campanha digital para a empresa Avon, garantindo recursos para estruturar sua empresa e sua casa. Ao final, foi descansar com a família e o Pai Rodney no Chile, passando a virada de ano em fraternidade e companheirismo.

Como negra, não quero mais ser objeto de estudo, e sim o sujeito da pesquisa

Djamila Ribeiro

Logo em janeiro, após a viagem, Djamila esteve em Gana para encontro com uma comunidade local produtora de manteiga de karité e de lá seguiu a um ciclo de palestras nos Estados Unidos, que passou pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, e em Duke, na Carolina do Norte. Quando voltou ao Brasil, um convite que a alçaria em outro patamar: o convite de escolhida como “Personalidade do Amanhã”, pelo governo francês, uma agenda de dez dias com encontros com o Presidente, parlamentares progressistas franceses e europeus, além de coletivos de direitos humanos. Seria a prévia no país do lançamento ocorrido em maio da versão traduzida de seus dois livros lançados no país. A turnê na França envolveu Paris, Rennes, Lille, Toulouse, Montpellier e também teve um dia em Bruxelas, com enorme sucesso no país. No Brasil, troca da editora que publicava a Coleção com a qual tinha uma série de problemas e fecha parceria com a Pólen Livros para previsão de investimentos e divisão de lucros de forma justa, num novo marco no mercado editorial. Somente nos primeiros dias de lançamento online dos livros da Coleção para compra, foram vendidos mais de cinco mil livros, algo muito inovador sobretudo se pensado o país e a crise do mercado editorial. O projeto acontece ao mesmo tempo em que é pensado o site de Djamila Ribeiro, com a plataforma de cursos online para português e inglês, com autoras e autores tratando de temas complexos de uma maneira acessível, sobretudo para quem está em busca de conhecimento a uma tela de distância. O site foi entregue em junho de 2019, com direito a festa, brindes e a certeza de seguir um caminho de luz.

 

Cases, prêmios e principais eventos dos quais Djamila tenha participado

Djamila Ribeiro é Mestre em Filosofia Política. É conferencista, realizou palestras em diversos países, entre eles, na sede na ONU em 2016, na Beauvoir Society, em 2011 e 2014 na Universidade do Oregon e Saint Louis (EUA) e em La Plata em 2015 (Argentina). Em Harvard em 2017 e 2018 (EUA). Em Berkeley, Califórnia, e Duke, Carolina do Norte, em 2019 (EUA). Em Oxford em 2017 (UK). King's College em Londres (Inglaterra) e Goethe University em Frankfurt 2018 (Alemanha) esteve também como Special partner da Bienal de Berlim (Alemanha), em 2018. Esteve também em Paris, Rennes, Lille, Toulouse e Montpellier (França) e em Bruxelas (Bélgica). Esteve em Barcelona em 2018 e Madri em 2019 (Espanha).

Ao longo de sua trajetória, recebeu algumas premiações como Prêmio Cidadão SP em Direitos Humanos, em 2016. Trip Transformadores, em 2017. Melhor colunista no Troféu Mulher Imprensa em 2018, Prêmio Dandara dos Palmares e está entre as 100 pessoas mais influentes do mundo abaixo de 40 anos, segundo a ONU. Também é conselheira do Instituto Vladimir Herzog e visitou a Noruega a convite do governo Norueguês para conhecer as políticas de equidade de gênero do país, em 2017. Foi escolhida como “Personalidade do Amanhã” pelo governo francês em 2019.

Em março de 2018, a convite da Revista Gol, foi pra Detroit produzir um artigo para a revista. Djamila foi capa da Revista Gol, Revista Claudia, colunista da Carta Capital e Revista Elle Brasil. Atualmente é colunista da Revista Marie Claire.

É coordenadora da coleção Feminismos Plurais onde já foram publicados 5 volumes contando com a sua primeira obra intitulada “O que é lugar de fala?”  que esteve em segundo lugar na lista dos mais vendidos da FLIP junto com "Quem tem medo do Feminismo Negro" lançado pela Companhia das Letras e aparece em terceiro na mesma lista. Seus dois livros aparecem nas listas dos mais vendidos na Bienal do Livro de São Paulo, Flipelô e na Revista Veja. Além de ser a primeira mulher brasileira a ser convidada para o Festival do Livro de Edimburgo em 2018.

Fez consultoria de conteúdo para a marca Avon, Rede Globo de Televisão no programa Amor e Sexo, entre outras empresas e instituições. É idealizadora e coordenadora do Selo Sueli Carneiro.

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